sexta-feira, 30 de abril de 2021

A importância dos bioindicadores no entendimento da qualidade ambiental

Nesses últimos dias, venho debatendo internamente em fazer um post diferente aos meus amigos visitantes, e veio a mente falar sobre a qualidade ambiental, a partir da biodiversidade apresentada.

Acredito eu, que você já tenha deparado com algum profissional falando sobre um ambiente, dizendo, esse local está preservado, ou… há problemas aparente nesta área. Só que, apenas indagar sobre tal problemática, sem estudos técnicos na área, não se tem certeza do que se observa, pois todo ambiente difere.

Copa de árvores de vegetação em floresta atlântica
Cada espécie pode indicar algo, positivo ou negativo...
Por exemplo, num inventário de flora, um modelo de listagem das plantas existentes numa área, com sua altura, riqueza (número de espécies), abundância (quantidade de indivíduos), … para se saber o estágio de preservação (o quão preservado ou não está aquela área), se tabula os dados coletados e compara-se a normativa pertencente a aquele ambiente (exemplo, resolução da mata atlântica para o sul de Santa Catarina, floresta ombrófila densa de terras baixas).
Mas, como chegamos a uma ideia de que pode haver algum problema ambiental em determinada área (observando o local), nós tratamos de investigar as espécies bioindicadoras, isto é, espécies de animais, vegetais, fungos, bactérias, algas, … que, havendo sua presença, indica que aquele ambiente está preservado, poluído, ácido, básico, e por ai vai.

Essas observações não se originaram num passe de mágica, mas por longos períodos de estudos, com diversos pesquisadores e acúmulos de saberes. Vamos a alguns exemplos:

Você já deve ter chego em costões rochosos, em beira de mar, certo? Ali, muita biodiversidade se aflora, com crustáceos, algas, peixes, etc… mas, focamos nas algas. Existem diversos tipos de algas, vermelhas, pardas e verdes, e num ambiente mais preservado, elas apresentam em diferentes extratos, isto é,
na região onde batem as ondas, e pode haver ressecamento, encontramos as algas verdes mais acima, algas vermelhas (inclusive com calcário) e na parte mais abaixo dessa primeira camada de rocha, as algas pardas. Indo um pouco mais adentro das águas, as algas verdes não conseguem realizar fotossíntese, estando as algas pardas com maior presença. Na parte mais afundo do mar, encontramos majoritariamente as algas vermelhas. (Tudo isso, numa riqueza elevada – grande número de espécies diferentes).
Rochas com presença de algas marinhas
Veja na imagem: quanto mais próximo a praia,
maior incidência de alga verde Ulva sp.

Observamos aqui um ‘padrão’, levamos a entender que se chegarmos num costão rochoso que deveria ter este ‘padrão de algas’, e notamos uma riqueza baixa (poucas espécies), principalmente, com elevada concentração de uma mesma espécie de alga, como a alga verde Alface-do-mar (Ulva sp. - neste caso, uma espécie bioindicadora), podemos supor que ali há presença de esgoto doméstico. Mas como confirmar isso? Análise de água, solo e análise técnica da biodiversidade apresentada no local.

Para quem vive em regiões de solo ácido ou mineração de carvão, como aqui no sul do estado de Santa Catarina, encontramos comumente uma espécie de samambaia-do-campo (Pteridium sp.) - samambaia que era muito utilizada para varrer quintal e ninho de galinhas - uma das características importantes dessa espécie, é que ela é resistente a solos ácidos. Quando chegamos em uma área, e encontramos esta planta existente, já imaginamos que o solo possa estar ácido (para garantir a análise, faz-se o estudo do solo).
Curiosidade: Há alguns anos, fiz uma visita técnica numa área de recuperação de mina de carvão a céu aberto, e meu professor que era o técnico responsável, olhou para o campo em recuperação, e disse… vamos precisar olhar este local, que está ácido. Isso, apenas observando que havia uma malha de samambaia (Pteridium sp.). E ele concluiu: acredito pre necessite realizar calagem (acrescentar calcário ao solo) nesta área.
A observação de espécies bioindicadoras vai muito além de minas de carvão, costão rochosos, ambientes florestais, … mas no solo das cidades, agricultura, pastagens, dentre outros. Profissionais voltados a agriculturas e hortas, costumam produzir artigos e relatórios explicativos, para encontrar espécies bioindicadoras nas lavouras ou quintais. A observação dessas espécies, são ferramentas essenciais para diminuir os esforços para desvendar um problema pontual em determinada área.

Basta uma breve varredura na literatura, que encontramos artigos que abordam sobre espécies bioindicadores, além de materiais como o folder desenvolvido por estudantes da UFSC Curitibanos, para a feira de agronegócios, que exibiram uma lista de espécies bioindicadoras da qualidade do solo para agricultura.

Outrossim, há espécies que indicam que a área está preservada. Quando chegamos em uma floresta, e notamos uma boa riqueza (grande número de espécies) e presença de plantas como o Palmito-jussara (Euterpe edulis), já imaginamos que aquele ambiente está em estágio avançado de preservação. Isto é, o palmiteiro, que vem sendo utilizado também como fonte de matéria-prima para o açaí, é uma espécie que exige um ambiente mais sombreado e com floresta mais preservada, e sua ocorrência espontânea (a partir de dispersão pela fauna) caracteriza como área preservada, isto é, um bom indicador de qualidade ambiental (Dados observados na mata atlântica do sul e sudeste do Brasil).

Copa de palmito jussara com floração (Euterpe edulis)
Palmito-jussara (Euterpe edulis)

Portanto, bioindicadores podem ser espécies que indicam um problema (ar, água, solo, ...) ou que está tudo em ordem, e para isso, sempre conectamos o indivíduo observado, o ambiente em que encontramos, as características regionais e estrutura social, a partir dos estudos já existentes e que venham a agregar a análise técnica e científica.
Tome nota: para quem vive no Brasil, quando tratamos de febre amarela, os animais que observamos para saber se há presença do vírus no ambiente, são os macacos. Ao assistir o jornal, note que a notícia alarmante para os cuidados e vacinação, começam com... foi observado macacos mortos vítimas da febre amarela. De uma forma, eles acabam sendo bioindicadores da presença do vírus (e do mosquito, que é único transmissor da doença) que pode levar a morte um ser vivo infectado, como nós humanos.

10 comentários:

  1. Boa noite meu querido amigo Calebe. Parabéns pelo seu trabalho excelente, sempre aprendo com você. Bom final de semana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Luiz,
      Que bom que lhe agrada o conteúdo. Forte abraço,
      Calebe Borges

      Excluir
  2. Excellent article dear friend . Full of curious ideas

    Thank you very much

    ResponderExcluir
  3. Trabalho extraordinário elaborado por um talento, profundo conhecedor, como é o seu autor. Deixo o meu elogio e aplauso.
    .
    Início e uma semana muito feliz … abraço
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Ricardo, muito obrigado pela sua visita e palavras.
      Busco fazer os post com muito carinho e atenção.
      Forte abraço,
      Calebe Borges

      Excluir
  4. Que post tão completo revelando muito interesse pelo ambiente. Os bioindicadores nos revelam o que se passa com o ambiente, como agora aprendi.
    Saúde e tudo de bom.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Céu,
      Fico feliz pela sua visita.
      Os bioindicadores falam muito, apenas por existirem, e em cada área de estudo, espécies avaliadas são de exímia importância.
      Forte abraço :D

      Excluir
  5. Como sempre um artigo esclarecedor e interessante.
    Temos muito para aprender observando a natureza que nos rodeia.
    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Maria,
      Fico feliz pela sua visita e comentário.
      Forte abraço

      Excluir

Fico feliz com sua participação, comente :D