sexta-feira, 7 de maio de 2021

As batalhas dos vegetais para garantir a sua sobrevivência


Diferentemente do que muitos imaginam, não são apenas os animais que lutam ativamente para garantir a sua sobrevivência, mas todos os demais seres vivos utilizam de estratégias para garantir sua perpetuação.

Foto das copas de árvores em floresta da Mata Atlântica
Foto das copas de árvores em floresta da Mata Atlântica.

Não é de hoje que a ciência se preocupa como a humanidade administra o uso de medicamentos, pelo fato de sua incorreta utilização, pode gerar superbactérias ou super-fungos, isso pois, estes seres microscópicos conseguem se moldar geneticamente, para enfrentar as adversidades que lhes apresentam. Todavia, além desses micro-seres, outros também desenvolvem diferentes estratégias de guerra para sobreviver, que são o caso das plantas.

Durante minha graduação, brincava com um dizer: ‘vou trabalhar com plantas, pois elas não saem do lugar’, será? Bom, há relatos de plantas que caminham vagarosamente, outras voam pelos desertos, todavia, em se tratando de estratégias de sobrevivência, os vegetais desenvolvem centenas de outros meios eficientes.

E para debater sobre essas características peculiares, desenvolvi este post e um video em formado de micro documentário, que poder ser assistido a seguir... mas caso deseja, continue sua leitura logo após o vídeo ;)

Assita ao microDOC: Vida - a luta pela sobrevivência

Batalha pela luz:

Uma das principais lutas das plantas, é a busca pela luz solar. Para quem não sabe, as plantas produzem os próprios alimentos, com a quebra do gás carbônico, a partir do uso da água, e irradiação da luz solar. Quando há ausência de luz, as plantas ‘passam fome’ ou consome suas reservas nutritivas.

Cada vegetal desenvolve uma estratégia para absorver a luz solar, uns conseguem sobreviver apenas com luz plena, outros menores incidência de luminosidade, mas cada vegetal têm uma forma de absorver luz e sintetizar seu alimento.

Todavia, para garantir seu espaço ao sol, muitas vezes há verdadeiras batalhas, onde uma planta acaba competindo com a outra. E muitas vezes, nessa guerra infinita, muitas vêm a morrer, sobrevivendo as mais ‘fortes’ e bem-adaptadas.

Guerra contra predadores:

Não bastando apenas a guerra por espaços, os vegetais precisam estar preparados para enfrentar seus predadores, os herbívoros. Imagine você num campo de batalha, apenas sendo atacado/a sem reagir, seria impensável, não é verdade?

As plantas também reagem aos ataques. Alguns vegetais desenvolvem proteínas impalatáveis (sabor desagradável), químicos tóxicos, espinhos afiados, dentre outras ferramentas para espantar os predadores.

Há plantas que desenvolvem técnicas incríveis, como o caso do Cafezeiro-de-galápagos, que para se defender da tartaruga gigante daquela ilha, produz folhas diferentes do habitual até alcançar uma altura em que as tartarugas não alcancem. 
 
espinhos de uma árvore chamada de mamica-de-cadela ou mamica-de-porca
Os espinhos são estruturas eficiente de defesa.

Parasitas e epífitas: 

Imagine uma árvore gigantesca, e no topo dela nasce uma pequena e nada inofensiva planta. Essa plantinha começa a crescer, e suas raízes descem até o solo, e ao tocar no solo, começa a ‘abraçar a árvore’ hospedada, levando-a a morte. Isso ocorre em algumas espécies de cipós.

Observando numa ótica abrangente, vemos uma planta parasita atacando a outra, mas quando começamos a olhar numa grande floresta, que se aquele cipó não tiver contato com o sol, não vingará, entendemos que, mesmo agressivo, usa-se uma estratégia de sobrevivência.

E você já ouviu falar em planta que rouba DNA? Essa estratégia de parasitismo, é utilizada por uma planta do gênero Cuscuta. Funciona assim, a planta se conecta a planta parasitada e rouba o DNA, implementando ao seu organismo, assim, consegue roubar nutrientes sem ser notada. Na agricultura, este gênero vem dando muita dor de cabeça aos agrônomos, pois elas acabam diminuindo a qualidade da produção agrícola.

Mas, toda planta que vive sobre outra, é parasita? Não. Nem toda planta ataca a outra para sugar seus nutrientes, ou utilizá-la como molde inicial para sua estruturação. A exemplo, as orquídeas, bromélias, briófitas e samambaias, utilizam os troncos como suporte, obtendo um local privilegiado e com acesso a proteção na floresta, água, nutrientes e afins. Neste caso, trata-se de epifitismo, sem danos a planta hospedada.

registro de uma inflorescência de bromelia
As bromélias utilizam de suporte, sem parasitar.

Raízes:

Quando observamos uma planta, acabamos por muitas vezes não olhando para ela no interior do solo. As raízes são as responsáveis pela fixação do vegetal, mas muito além da fixação, é pelas raízes que há absorção de água e nutrientes do solo.

Outra característica importante das raízes, é a interação entre as plantas com o auxílio de fungos, isso mesmo, um dos mecanismos de interação e comunicação vegetal, está debaixo do solo. E quando há redução de recursos, ou ataque de predadores, as plantas conseguem avisar umas as outras, como uma grande família.

Comunicação e interações:

Além da comunicação entre plantas, os vegetais também conseguem ‘conversar com os animais’. Um exemplo clássico da literatura, é a interação entre espécies de pinos e as joaninhas.

As joaninhas são invertebrados predadores vorazes, e quando há ataque de parasitas nas árvores de pinos (pinheiros), essas liberam no ar um hormônio atrativo, que traz o seu predador a joaninha faminta.

Além dessa interação de defesa, as plantas conseguem atrair polinizadores com flores atrativas e odores que ultrapassam quilômetros de distâncias. A polinização é um dos fatores importantes na reprodução cruzada, e além da reprodução, conseguir espalhar suas sementes é outro desafio.

Algumas plantas desenvolvem estratégias incríveis, como sementes que ‘plainam’ por centenas de quilômetros, ou frutos deliciosos, que atraem uma verdadeira biodiversidade de fauna, que ao comerem do fruto, defecam ou liberam as sementes em outros ambientes. Um exemplo clássico já debatido no quis aqui no blog, foi dos morcegos que viajam a América do Norte. Durante a primavera, os morcegos sobrevoam do México para o Canadá, e vão sugando néctar das flores dos cactos (um processo de polinização), durante o outono, esses mesmos animais retomam sua viagem de volta, e agora com a presença de frutos. Ao se alimentarem dos frutos dos cactos, liberam suas sementes e geram novas plantas. Poderíamos dizer aqui, que os morcegos são os participantes ativos dessa interação, mas questione-se, se não houvessem os cactos com suas flores e frutos, seria viável essa viagem?

Considerações finais:

Comumente vemos na literatura e em diversos lugares, sobre o termo ambiente equilibrado, mas o que seria esse equilíbrio? O equilíbrio seria observar em uma determinada área, um padrão ecológico esperado. Mas esse padrão ecológico, seria um paraíso imaginário de desenhos fictícios? Não.

O equilíbrio esperado, é que todos os seres consigam obter o melhor do ambiente para garantir a sua sobrevivência e perpetuação. E nisso, inclui principalmente as plantas.

Os vegetais, portanto, tem papel fundamental para a vida na terra, desde proteção do solo e água, alimento e abrigo. Isentar essa magnitude selvagem em nossas vidas, é apagar da memória um dos atores principais, no qual sim possuem atitudes ativas sobre sua vida, interações e sobrevivência.

Ovos de percevejos em folha de árvore.
Ovos de percevejos em folha de árvore.

Fontes bibliográficas e dicas de leitura:

Artigos de acesso livre:

RITTER et al. SISTEMAS ENVOLVIDOS NA COMUNICAÇÃO VEGETAL. https://eventos.uceff.edu.br/eventosfai_dados/artigos/agrotec2017/666.pdf USP. Ainteligência das plantas revelada. http://www.esalq.usp.br/lepse/imgs/conteudo_thumb/A-inteligencia-das-plantas-revelada-veja.pdf

Livros diversos

BEGON, M.; TOWNSEND, C.R.; HARPER, J.L. Ecology: from individuals to ecosystems. 4 ed. Malden: BLACKWELL PUBLISHING, 2006.

RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. ed. 8. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2014.

ROSIQUE, I. R.; IVANDIR, R.; CHEIN, L. A. Fundamentos de botânica. São Paulo: F.T.D., 1976.

15 comentários:

  1. Uma AULA sobre as plantas que amei ler. E assim escreve que estudou e sabe. Deixo o meu mais efervescente elogio.
    .
    Feliz fim de semana … abraço
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. Olá Ricardo,
      Fico feliz que tenha apreciado o conteúdo, ele é feito com muito carinho.
      Forte abraço

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  2. Muita informação boa. Muito obrigada mais uma vez.

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    1. Olá Alice,
      Sou honrado pela sua visita, e que bom que gostou do conteúdo ;)

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  3. Interesting subject . The nature is our futur .We have to preserve it.
    Loved this article . I appreciate very much.
    Thanks a lote dear friend.
    Hug

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    1. Hi Marina,
      I'm really happy with your appreciation.
      Thanks so much ;)

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  4. Um post, incluindo o vídeo, muito interessante e esclarecedor.
    Bom week-end.

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  5. Olá Céu,
    Que bom que tenha gostado do material, feito com muito carinho :D

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    1. Oi, Calebe!

      Já deu para ver que você faz todos os seus posts com muito interesse e carinho. É biólogo de formação e coração, sem dúvida.
      É muito detalhado e ama transmitir seus conhecimentos.

      Novo post lá. O espero. Obrigada! Espero que a temática do meu blog lhe agrade.

      Abraço e muita saúde por aí.

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  6. Boa tarde meu querido amigo Calebe. Obrigado pela maravilhosa aula, tema interessante e que acho que poucos o conhecem. Bom início de semana.

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    1. Olá Luiz,
      Fico feliz com sua visita, e que bom ter agregado algo para você.
      Forte Abraço :D

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  7. Cresce a consciência que devemos todos participar nessa batalha de sobrevivência.
    Abraço, boa semana

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  8. Se queremos deixar um planeta verde e saudável para as gerações futuras, há que respeitar e preservar a natureza e manter o equilíbrio certo com o meio ambiente.
    Brilhante artigo.
    Abraços

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  9. Olá Maria,
    Muito obrigado pela sua visita.
    Forte abraço

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