Os cuidados em aceitar uma identificação botânica de imediato

Trabalhar com a natureza, muitas vezes, parece ser algo extremamente complexo, até que no dia-a-dia, vamos nos adaptando a compreendendo um pouco melhor sobre a funcionalidade de cada conceito, teoria e metodologia, e a identificação botânica entra num desses viés (mas engana-se quem acha que descobre tudo, sempre há mudanças).

Com os saberes populares, conseguimos chegar a muito local, não é verdade, mas… se você buscar no Google a palavra “canela árvore” verá que ele define uma espécie X como a canela-verdadeira (Cinnamomum verum J.Presl), espécie comum utilizada comercialmente como temperos. C. verum não é endêmico do Brasil (e creio nem ser nativa), e em referências como Tropicos, diz que esta espécie não ocorre no Brasil, nem Portugal (Note a foto abaixo de um possível C. verum, no qual aguardo maturação e inflorescência para melhor identificação - cf. é o mesmo que conferir ou conferatum).

Ramo com folhas de canela (Cinnamomum cf. verum)

Mas, já pensou ou tentou achar quantas plantas são chamadas de canela? Só no Reflora, tem 8 plantas com nome canela, sendo duas fora da conhecida ‘família das canelas’ (Lauraceae), e no Flora Digital para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, contabiliza-se cerca de 49 espécies com nome comum de canela.

E qual o objetivo deste post? Abordar sobre como funciona a identificação científica? Bom, ai deveríamos entrar num universo muito bacana e complexo, o da taxonomia vegetal e todas as disciplinas amigas dessa ciência. Mas não, hoje vamos falar sobre os cuidados – e responsabilidades - de se bater o martelo na identificação de uma planta.

A fonte do motivo deste post? Uma discussão virtual (não citarei locais, para garantir sigilo e discrição) sobre identificação vegetal, onde uma pessoa perguntou sobre uma espécie, onde teve quem comentou ser Euphorbia sp. (Euphorbiaceae) - e que de fato, pode fazer sentido -, e muitos citavam ser Rhipsalis sp. (Cactaceae - veja registro meu abaixo), sendo que de imediato, vários bateram o martelo sobre sua identificação, recomendando inclusive chás (bom pra isso, aquilo, e até câncer).

Planta jovem epífita de Rhipsalis sp. Família Cactaceae.

Agora, imagine se a pessoa que perguntou, aceitasse a opção de ser a espécie da família dos cactos, e fizesse chá dela? Quais os riscos se colocaria ao tomar um possível chá tóxico? Por isso, antes de ter total certeza de que se trata da planta, observe todas as características e caracteres, e na dúvida, consulte um especialista da espécie/família – e não saia comendo ou fazendo chás de qualquer coisa que lhes apresente (Dica, cultive a planta para ver a inflorescência e fruto, para fins comparativos).

Planta adulta com frutos de Rhipsalis sp.

Segue alguns locais que você pode conferir dados sobre a planta que está avaliando:

- spLink: http://www.splink.org.br/
- Flora do Brasil 2020: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/
- Flora de São Paulo: https://www.infraestruturameioam[...]_online/
- Flora Digital (SC e RS): https://floradigital.ufsc.br/index.php
Do próprio BCBOT:
- Você já ouviu falar sobre as PANCs?: https://bcbot[...]s.html
- Plantas tóxicas que embelezam a nossa vida, mas que precisam de cuidados especiais: https://bcbot.[...]ssa.html

Vale lembrar, que para cada região ou estado, pode-se encontrar várias ferramentas que ajudam na comparação dos indivíduos, a fim de buscar uma melhor identificação.

Pois bem, espero que este post traga lucidez e cuidados nas tomadas de decisões ;)

Forte abraço.